“Pesquisa
realizada neste início de ano por uma parceria entre a empresa Market
Analysis e a ONG Vitae Civilis mostrou que apenas 11,5% dos brasileiros
têm alguma informação a respeito da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que vai ocorrer no Rio entre os
dias 14 e 22 de junho deste ano.
A
pesquisa foi realizada por telefone, em nove capitais, com 806 pessoas de
18 a 69 anos de idade. Dos entrevistados, 4% pertencem à classe A, 29% à
B, 49% à C e 18% às classes D e E. Entre todos, apenas 4,4% ouviram
"muito" sobre a Rio+20, enquanto 7,1% disseram ter ouvido "alguma
coisa". Dos 11,5% que conhecem a Rio+20, 73% se interessam pelos
assuntos relacionados ao evento. Os mais mencionados foram
desenvolvimento sustentável, economia verde, combate à violência, combate
ao tráfico de drogas, Copa de 2014, erradicação da pobreza, meio ambiente
(geral) e combate à poluição.
O Rio
de Janeiro, onde será realizada a conferência, é a cidade do País em que
a população tem mais conhecimento a respeito: 24%. Por que tão pouca
gente está interessada na Rio+20?
Na
minha opinião, as discussões ocorridas até agora têm focado apenas nas
negociações, sem se preocupar em esclarecer a sociedade sobre as mudanças
que o evento poderá trazer ao mercado e à vida das pessoas. A mídia
também passa ao largo do debate e não provoca os órgãos e entidades envolvidos
a dar esses esclarecimentos para, com isso, aumentar o interesse da
população e, em conseqüência, a relevância da conferência para os
diversos segmentos da sociedade.
Quais
podem ser os impactos da Rio+20? São muitos e requerem profunda reflexão.
Por isso, a Conferência Ethos 2012 vai discutir "A empresa e a nova
economia - o que muda com a Rio+20", entre os dias 11 e 13 de junho,
em São Paulo. Serão analisados em profundidade os temas que vão ser
objetos de negociação na Rio+20.
As
discussões vão desenhar cenários para verificar o impacto do que poderá
ser decidido - e também do que não for decidido - no mercado e na vida
das pessoas. Haverá também o aprofundamento das reflexões sobre os temas
estruturantes da nova economia e o aperfeiçoamento das propostas de
mecanismos que ajudem a internalizar as premissas do desenvolvimento
sustentável na economia e na política.
Vamos
construir um cenário com duas das propostas em discussão. Suponhamos que
a Rio+20 aprove a orientação já estabelecida em seu "rascunho
zero" oficial (documento que está orientando as discussões da
conferência) de "eliminar gradualmente subsídios que exerçam efeitos
negativos sobre o meio ambiente". Uma das conseqüências dessa
decisão seria, por exemplo, políticas econômicas totalmente reformuladas,
levando em conta os critérios decididos na Rio+20.
No
caso brasileiro, o governo não poderia reduzir o IPI dos carros e da
linha branca sem exigir contrapartidas que diferenciassem produtos
poluentes de não poluentes. E a indústria, para se beneficiar de isenções
e outros incentivos fiscais, precisaria investir numa produção mais
verde. O cidadão teria à disposição, por exemplo, carros menos poluentes
e geladeiras mais eficientes em consumo de energia, a preços menores.
Se a
Rio+20 resolvesse se apresentar como a saída para a crise, então
poderíamos imaginar uma transformação radical nos negócios e no nosso
modo de vida, pois as premissas do desenvolvimento sustentável norteariam
as decisões dos governos e das empresas.
Um dos
aspectos mais cruéis do nosso modelo insustentável de civilização é a
crise financeira atual, que aumenta a cada nova onda e vai levando
consigo a confiança no mercado e nas instituições democráticas, os
valores que norteiam as relações humanas e os recursos materiais e
naturais das sociedades e do planeta.”
Artigo de Paulo Itacarambi,
vice-presidente do Instituto Ethos, publicado no Correio Braziliense; JC
e-mail 4454, de 13 de Março de 2012.
|